segunda-feira, 2 de abril de 2007

Repensando o Futuro de TI no Brasil

Repensando o Futuro de TI no Brasil
Roberto Carlos Mayer - Presidente da ASSESPRO-SP
Matéria publicada na Gazeta Mercantil - 02-04-2007

TI é certamente um dos segmentos econômicos mais promissores e dinâmincos hoje. Há grande demanda por mão-de-obra qualificada, alimentada pelo desenvolvimento de soluções no modelo de outsourcing (terceirização) e/ou offshoring (serviços no exterior). Mas é preciso refletir sobre as perspectivas relacionadas ao impacto sobre a evolução das empresas de software no País.

Cada vez mais empresas globais de TI têm investido em mercados emergentes. As equipes nesses países têm como objetivo o desenvolvimento de sistemas "sob medida" e a customização de software existentes. As grandes empresas de que usam TI geram globalmente demanda e sugam a mão-de-obra.

A primeira ameaça ao mercado no futuro é oriunda da competição entre os países emergentes. Hoje, são poucos os que dispõem de profissionais de TI em atividade do tamanho do Brasil. Entretanto, é perfeitamente possível que em dez anos apareçam rivais entre emergentes como Paquistão, Bangladesh e Indonésia, entre os menores.

Se, por exemplo, Bangadesh vier a oferecer mão-de-obra especializada a preços muito inferiores aos do Brasil, devemos nos perguntar qual será a reação das empresas globais de TI, que haviam investido no País: muito provavelmente optarão por desinvestir ou com a sua saída definitiva ou com a diminuição da demanda. Cabe observar que uma mudança dessas é muito mais fácil no caso de offshoring do que com uma planta industrial. Outro aspecto que reforça a possibilidade é o fato de a maioria das multinacionais materem a área de desenvolvimento e definição de estratégias nos países de origem.

Uma segunda ameaça vem do mercado consumidor de TI: observa-se que apenas grandes empresas possuem orçamentos capazes de gerar volume de desenvolvimento e oportunidades de offshoring. Por outro lado, o desenvolvimento de software sob medida possui custo muito superior ao dos aplicativos empacotados. A contínua pressão pela redução de custos em TI nas grandes empresas também terá sérias repercussões sobre o tamanho da demanda de offshoring em longo prazo.

Os maiores fornecedores mundiais de aplicativos não apenas detectaram a situação, mas trabalham há vários anos no sentido de tornar suas plataformas de produtos mais abrangentes e fáceis de serem customizadas, reduzindo a necessidade de customizações e de novas funcionalidades que dependam de programas sob demanda.

A grande pergunta é: o que queremos do mercado brasileiro de TI depois que esta janela se fechar? Certamente, teremos profissionais devolvidos ao estoque de mão-de-obra pelas multinacionais e que só terão oportunidade de emprego se as fornecedoras locais absorver.

Até o momento, apesar de o setor estar incluído na política industrial do governo federal como um dos setores prioritários, pouco ou nada se fez de concreto para a indústria de software. Sabe-se que as empresas locais perdem competitividade, resultado da carga tributária, encargos trabalhistas e indefinições na legislação.

No cenário globalizado que antevemos para daqui a dez anos, só haverá espaço para empresas de software que atuem no modelo global, concebido como um produto. Não só as comapnhias nacionais precisam ser preparadas para este cenário, mas é preciso formular políticas de qualificação e requalificação de mão-de-obra para esta finalidade. A política de levar em conta que a indústria nacional é formada hoje, principalmente, por pequenas e médias empresas.

Alguns incentivos contretos que sugerimos, além da revisão da tributação e sistema trabalhista, incluem incentivose financiamentos aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos, a criação de uma rede de promoção de produtos nacionais no exterior, a criação de programas de formação de mãode-obra, entre outros.

Caso o País continue a agir como se a oportunidade do offshoring fosse uma realidade a persisrtir por várias gerações, corremos o sério risco de levar as empresas locais do setor de software à extinção.

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